Lisboa está bombando. Na verdade Portugal inteiro está se reinventando com o estímulo ao turismo e à tecnologia (Lisboa é polo de start-up na Europa, a ~nova Berlim~, dizem). Os jovens estão voltando pro país com dinheiro estrangeiro e ideias para investir. A capital de Portugal está mudando – e rápido. É 2018 e a cidade está toda em obras, andaime para todo lado, prédios que estavam decaídos estão revivendo. Pensa que há 10 anos Portugal estava com a população envelhecendo (ainda está), os poucos jovens migrando pra países com melhores chances econômicas, os velhinhos morrendo e deixando de herança casas enormes para serem divididas entre os filhos e netos… mas a década de 2010 foi a virada para a cidade.
O governo estimula a imigração de gente rica por meio do Visto Golden (chineses e brasileiros são os que mais conseguem o benefício), nômades digitais europeus se beneficiam do livre trânsito para trabalhar em Portugal com salário francês, alemão, sueco… e tem mais:
Turismo tá bombando porque o país é mesmo uma mina de pedras preciosas a serem descobertas, com seus povoados tradicionais charmosos, praias lindas tanto com águas calmas ou ondas gigantes, montanhas roliças, comida deliciosa e os preços, ah, os preços amigáveis, bem mais baixos do que outros países da Europa. E Lisboa é a capital dessa mudança, cosmopolita, a que recebe mais atenção, mais gente, mais investimento. Se há dez anos o clima era de fado saudoso entre prédios decadentes, hoje é samba, kuduro, música balcânica, rap e também o fado, tudo misturado.

Nem tudo é arco-iris. Alguns dos prédios antigos de Lisboa foram comprados por ricos chineses, russos, brasileiros, franceses, etc e permanecem só com a casca histórica, um shopping center horroroso construído dentro. Outros estão sendo menos estuprados e voltando à vida mantendo suas características originais, só que com as reformas muitas vezes os preços sobem e a alta dos aluguéis e compra de imóveis é assunto diário na mídia portuguesa. Cabe ao governo controlar isso, mas por enquanto os poderosos não tão nem aí que os portugueses estão tendo que se mudar pra periferia pra dar espaço pra Airbnb e outras formas de alojamento temporário pra estrangeiros.
Como turistar sem apoiar esse tipo de iniciativa? Tentando ficar em hoteis e hostels que não sejam de grandes empresas (se o dono do hostel for o administrador lá no dia-a-dia, ainda melhor), fugindo das armadilhas para turistas e procurando lugares autênticos, onde você vai se sentar numa mesa ao redor de gente que vive em Lisboa e cuida da cidade, sejam eles portugueses ou estrangeiros que querem que a alma da capital não se perca entre restaurantes de tapas e baladas de música eletrônica na beira do Tejo.
A Dani Valentim passou 2 meses por lá e deu mais dicas de sobrevivência para te ajudar a se virar.

Algumas observações
A gente consegue entender as palavras que os portugueses falam (na maioria das vezes), mas vale lembrar que Portugal não é o Brasil. Eles têm outra cultura, com outros usos para a mesma gramática e umas centenas de anos de história diferente da nossa (e lados diferentes da mesma história desde 1500). É divertido identificar essas diferenças e não se envergonhe de perguntar quando não entender. Esteja certa de que abismos de linguagem irão ocorrer e que os portugueses também costumam achar que os hábitos culturais do Brasil são iguais aos de Portugal, e costumam não entender porque a gente não entende do quê eles estão falando – ou quando nos ofendemos com algo que para eles é normal ou vice-versa. Paciência, simpatia e, se não der para conectar os pontos mesmo depois de tentativas de compreensão dos dois lados, apenas sorria, acene e mude de assunto, rs.
Os portugueses geralmente entendem bem o sotaque brasileiro, mas a recíproca nem sempre é verdadeira. Eu sofri um pouco no começo para entender tudo que me diziam, mas depois me acostumei. Adotei para vida: pois (para dizer “sim” ou apenas concordar com o que o migo tá falando e estimular que ele siga falando), bué (“muito”, usar bué é viciante), brutal (algo muito forte, pode ser bom ou ruim, é tipo o nosso “foda”), perceber (no sentido de “entender”)… aos poucos você vai descobrindo as palavras tugas e fazendo seu dicionário pessoal.
Falar sobre colonialismo é delicado. Eu gosto de puxar assunto polêmico, então fiz muitas perguntas sobre colonialismo para entender como as pessoas do outro lado do Atlântico aprenderam na escola, como diferentes grupos pensam a partir dessa educação e sua experiência de vida e tal. Mas estava sempre pronta a só concordar e acenar quando a opinião da pessoa em questão era muito absurda (tipo achar que a colonização espanhola foi muito pior que a portuguesa, achar que Portugal fez um favor pro Brasil ao colonizá-lo, etc) e eu não tava afim de discutir.
Dicas práticas
O metrô da cidade vai até o aeroporto, uma maravilha! A passagem custa €1,45. Você precisa comprar um cartão (de papel) numa máquina e recarregá-lo.
O metrô é bom e fácil de usar (compre o bilhete na máquina com cartão ou dinheiro), tem muitas linhas de ônibus, trem que sai do Cais do Sodré até Belém é ótimo… mas andar à pé é excelente. Mesmo com as subidas e descidas, muitas vezes compensa mais andar, tanto por causa do tempo que o metrô demora e porque a cidade é muito deliciosa para conhecer à pé.
Já o bonde tradicional (que eles chamam de elétrico)… é bonito, típico e tal, mas achei caro (€2,90) por um serviço que nem anda muito, além de sempre ter muita gente na fila para entrar nele. O governo aumentou o preço devido à alta demanda turística, e eu não achei que valia a pena. Ainda sim, sempre era muito simpático encontrá-lo nas ruas e acabei criando a (péssima) paródia “Vamos pegar o primeiro bonde com destino aos Prazeres” (ler com ritmo de Pense em Mim, de Leandro e Leonardo). Também tem o elétrico moderno, que parece um metrô de superfície que anda nas ruas normais – é mais barato e menos cheio que os antiguinhos de madeira e integram com os outros serviços de transporte da cidade.
Uma corrida de Uber do centro até o aeroporto é barato (entre 7 e 10 euros), vale a pena se você estiver com malas, em 3 pessoas ou mais ou se seu avião chegar em horário sem transporte público (o metrô abre às 6h30 e fecha 1h AM todos os dias, que maravilha!).
Logo no aeroporto tem um guichê da Vodafone, onde você pode comprar um sim card para celular. O melhor plano para quem é turista é o YOU, pré-pago que você pode escolher quantos GB por quinzena você vai assinar. O pré com 3gb a €8,50 por quinzena é mais que suficiente para quem é turista – e inclui 500 minutos ou SMS para você poder ligar pros restaurantes e reservar mesa, por exemplo.
Melhor levar euros comprados no Brasil, nem toda casa de câmbio troca reais.
Muitos estabelecimentos só aceitam dinheiro, não vá achando que vai dar para usar cartão de crédito em todo lugar. Supermercados de rede costumam aceitar cartão, ainda bem.
Vinho é super barato no supermercado e pode beber na rua sem problemas. Isso significa que… piqueniques! Especialmente no verão! Leve vinhos para os miradouros, para o parque, para a beira do rio Tejo… não faltam espaços de contemplação na cidade. A rede de supermercados Pingo Doce é a com melhores preços para vinhos, frequentemente com promoções. Minha amiga Raquel Sodré deu a melhor dica para escolher qual vinho comprar: aquele que for muito mais caro e estiver em promoção, hehehe. No Pingo Doce dá para achar vinho de 6, 7 euros que tá em promoção a 2, 3 euros. Não paguei mais de 3 euros por garrafa e todos os vinhos que comprei eram melhores que os vendidos no Brasil a 40 reais.
Sim, é impossível estar sóbria em Portugal.
*Foto: David Marcu no Unsplash
Miradouros
Eu AMO andar e acredito que caminhar é a melhor forma de conhecer um lugar novo: você consegue consegue sentir os cheiros, ouvir os sotaques, experimentar comidas de rua e pode parar quando quiser sem se preocupar com onde estacionar o seu veículo. Lisboa é especial nesse quesito. É a Lisboa Das Sete Colinas, aceite. Vai ter morro, vai ter escada, vai ter viela tortuosa… e não é perigoso andar sozinha! Não tenha medo de subir ladeiras. Vista sapatos confortáveis e encare-as.
Geralmente tem um miradouro lá no alto que vai fazer valer a pena (além de ser ótimo para tornear as pernas e bunda! Voltando das férias malhada, hell yeah!). Amei me embrenhar pelas escadinhas, geralmente tem grafites interessantes nas paredes e, ufa, nenhum carro, afinal são escadas.
Procure pelos miradouros (mirantes) e fique por lá por um tempo, observando a vista da cidade.
Não vou listar todos os que visitei (foram MUITOS), aqui estão os miradouros que mais gostei por terem menos turistas e oferecerem vistas diferentes da cidade:

Jardim do Torel – fica em Arroios, bairro majoritariamente habitado por portugueses e imigrantes querendo fazer a vida ao mesmo tempo que é super central (ótimo lugar pra se hospedar fora do fervo se for ficar vários dias). O jardim tem bancos de praça normais e também individuais com apoio para os pés pra você sentar e ler por um tempo, é cercado de árvores, se espalha por vários níveis com terracinho, fonte desativada (que vira piscina no verão) e um café super simpático descendo uma escada. Como não amar?

Miradouro da Graça – é uma delícia para ver o fim da tarde dourada caindo sobre a cidade. Tem vista pro Castelo de São Jorge, pro Tejo, pra ponte e pra dentro da cidade (a foto panorâmica aqui em cima foi tirada lá). Para chegar, você pode ir subindo direto pela Mouraria ou ir pelo Príncipe Real, passando por outros miradouros no caminho: Santa Luzia, Portas do Sol, Recolhimento… a maioria dos turistas não chega até o alto, por isso o da Graça, além de ter uma vista lindíssima, é tão vazio, hehe.

Miradouro de Santa Catarina – é perto do Chiado e não muito alto, por isso é cheio, mas tem muitos jovens de vibe boa e a estátua do Adamastor, um gigante mítico que aparece n’Os Lusíadas. Além do mais, a vista é sensacional, com o Tejo, a ponte (uma vibe meio San Francisco) e todo aquele charme dos telhados de Lisboa num ângulo só.
Livrarias e afins
Achei os livros portugueses, em geral, mais caros que no Brasil. Ainda sim, foi muito interessante mergulhar nelas, especialmente nas livrarias menores, independentes, onde é possível encontrar obras de editoras pequenas e autopublicações. Também é legal puxar assunto com o livreiro, costuma render boas recomendações – de livros e de lugares para conhecer em Lisboa. Ah! Em Portugal, sebo de livros se chama alfarrabista. Tem vários ótimos na capital. Um ótimo lugar pra comprar postais antigos (além de livros, claro, tentando ser comedida por motivos de peso da bagagem).

Se é para fazer um passeio literário por Lisboa, ele precisa começar no Chiado.
Este é o bairro mais turístico da capital portuguesa atualmente e foi lá que nasceu o Fernando Pessoa. Tem uma estátua gigante do Camões no meio da praça principal do bairro (mais um pra saudar no passeio literário por Lisboa) e logo ali, em frente ao A Brasileira, café que o Fernando Pessoa curtia sentar pra escrever, tem uma estátua do poeta das milhares de faces – sim, tirei foto com Pessoa porque né, por que não.
Existe um passeio guiado por Ricardo Belo (investigador pessoano, membro da Casa Fernando Pessoa, editor de O Meu Pessoa e autor dos livros “O Quarto Alugado”, biografia pessoana, e “Fernando Pessoa para todas as pessoas”) que acontece todo primeiro domingo do mês (ou quase isso) e parece ser muito interessante! Não consegui fazer, mas se você se interessa pelo Pessoa, vale a pena tentar. O passeio começa no Largo de São Carlos, onde fica a casa onde o Pessoa nasceu (e que hoje é um apart hotel com loja da Godiva embaixo, um retrato do que Lisboa está se transformando… snif).

Em em frente À Brasileira e a estátua do Pessoa está a Bertrand, a livraria mais antiga do mundo. Ela é meio… livrariazona comercial normal que compete com a Fnac… Gostei mais de entrar em livrarias menores, mas é legal entrar na Bertrand para ver o prédio, que é bonito. Quase em frente tem um sebo chique, que também é editora, a Sá da Costa, que tem muitos postais, fotos velhas e livros do mundo todo. E a também antiga Livraria Ferin fica ali pertinho e é muito charmosa, caso queira ver mais livrarias tradicionais em casarões antigos.

Letra Livre: Alfarrabista (sebo) incrível que fica na Calçada do Combro. É dessas pra ficar horas se perdendo entre os livros em exposição e os organizados nas estantes. Tem obras de editoras independentes, muitas raras e numa segunda loja duas casas pra baixo, aberta se você pedir, tem obras não-ficcionais do mundo todo (tipo os três tomos das Danças Dramáticas do Brasil, pesquisa etnográfica do Mário de Andrade que incluiu partituras e letras de várias danças folclóricas do nordeste brasileiro – comprei por 25 euros). A loja de cima é focada em literatura e tem muitos autores portugueses. Mergulhe.

Artes e Letras Ateliê: Seguindo a calçada do Combro, que aliás é fofíssima quanto mais você desce, encontre o atelier da artista Ines Caria, que produz em tipografia (ela tem prensas de tipos móveis antigas mara), aquarela e nanquim. É excelente opção pra comprar presentes lindos, únicos e fáceis de transportar. Eu dei de cara com a porta 3 vezes antes de encontrar o atelier aberto (era feriado, emenda de feriado, domingo…), então vá em horário comercial e, na dúvida, manda uma DM no Insta do atelier e combine a visita com a Inês. Valeu a pena ter insistido, o lugar é mágico e a Inês é ótima pessoa pra ficar de papo. Ela também vende artes de outros criadores.

Palavra de Viajante: Uma livraria especializada em viagens! Amei muito sim ou sim? As estantes estão organizadas por países e tem guias, obras literárias, novelas gráficas e até acessórios de viagens. Uma excelente seleção. E as donas ainda são duas mulheres pra lá de viajadas e simpáticas. Achei meu exemplar de Flaneuse, um livro sobre mulheres artistas que caminham pelas cidades que eu tava namorando há meses, na vitrine da livraria. Aliás, recomendo DEMAIS esse livro e dá pra ler o primeiro (e excelente) capítulo.

Livraria do Simão: Provavelmente a menor livraria do mundo, ela funciona no meio de umas escadas que dão para o Castelo de São Jorge. É só uma porta com um espaço de centímetros quadrados pra dentro, onde o Simão trabalha espremido entre a parede e um computador.

Ele conhece, obviamente, todos os livros que estão à venda e foi super legal bater um papo com ele. Pena que na noite anterior a escada tinha sido usada como mictório por pessoas maleducadas, foi preciso abstrair o fedor para observar os livros (não acho que seja motivo pra não ir, afinal pode ser que não esteja mijado quando você for).

Fábula Urbis: Livraria especializada em livros sobre Lisboa. Um bom lugar para comprar um guia insider sobre a cidade, um romance que se passe num bairro que você curtiu ou pra bater um papo com o dono, que tem aquele mal humor típico português. A livraria tem também uma galeria no segundo andar e uma sala com um piano, então deve ter festinhas por lá às vezes. Fica ao lado da Igreja da Sé, a matriz de Lisboa, então já dá pra visita-la no caminho pra livraria (ou o contrário).

Ler Devagar: Uma das livrarias mais lindas do mundo, de acordo com diversas listas pela internet. E realmente é muito linda! A Ler Devagar fica em um galpão onde antes era o parque gráfico de um jornal. Além de linda, bem iluminada e super agradável para ficar olhando os livros de pé ou leva-los para uma das mesas do café para folhear (ninguém vai te encher o saco se quiser ler uns trechinhos deles ali mesmo), ela também abriga as invenções de Pietro Prosépio. Ele cria máquinas poéticas muito legais e geralmente está lá, no terceiro andar da livraria, entre as ferragens da antiga prensa do jornal e suas invenções, para fazê-las funcionar e contar as histórias por trás da criação de cada uma.
Essa livraria fica mais longe das outras em Lisboa, mas fica dentro do LX Factory, um shopping a céu aberto com lojas de pequenos produtores instalado num parque industrial que estava desativado. Tem cafés fofos, lojas de decoração e roupas super lindas, brechós e lojas menos caras nos andares superiores dos galpões e também a Ler Devagar. Outro lugar legal de visitar lá é o Rio Maravilha, que fica no último andar do galpão principal do Lx Factory: um café hipster meio caro, mas que tem uma vista linda pro Tejo e pra cidade de um ângulo bem diferente dos outros miradouros que você provavelmente irá visitar.
Hábitos à mesa
Café da manhã costuma ser simples, frequentemente um pãozinho com café, como em muitas casas brasileiras. Se onde você estiver hospedado não tiver café da manhã incluso, recomendo ir a uma padaria e pedir um pãozinho de cada, para experimentar de tudo, hehehe.

Tascas são os restaurantes tradicionais que servem poucos pratos (peça um entre os do dia!), vinho em jarra (geralmente barato), velhinhos comendo em mesas coletivas e good vibes. São os restaurantes do bairro e as mesas são grudadas umas nas outras, o que eu acho ótimo. Alguns têm sobremesas mara, dessas de vó tipo pudim e mousse.
Uma refeição completa portuguesa é basicamente sopa + carne (porco, peixe, às vezes boi) com batata + sobremesa (a maioria feitas com muitos ovos) acompanhados de vinho. Raramente é servida salada e se você não pedir a sopa do dia, vai ficar sem comer legumes. No prato às vezes tem feijão, às vezes tem arroz, mas geralmente vai vir batata mesmo: cozida, frita, assada. E muito azeite!
Tenho 4 amigas vegetarianas que abriram exceção para peixe e frutos do mar depois que se mudaram para Portugal. Ainda que haja bastante opção de restaurantes vegetarianos em Lisboa (dos baratex de bairro aos mais sofisticados), numa tasca tradicional será difícil encontrar uma refeição vegetariana que encha o bucho com alegria.

Existem muitos, muitos jeitos de preparar bacalhau, os mais comuns são:
À Brás: desfiado com ovo mexido e batata palha
Espiritual: desfiado e gratinado com molho bechamel, batatas, etc, muito cremoso
À Gomes de Sá: marinado com leite, servido com azeitonas pretas, batata e ovo cozido
À Lagareiro: servido com batatas ao murro, muito azeite e alho assado
… e a lista é longa! Não tenha vergonha de perguntar sobre os itens do cardápio para entender como os pratos são feitos. Pros portugueses é óbvio (tipo perguntar de que é feito o estrogonofe), então não tem muita explicação escrita em português… O garçom provavelmente vai ficar meio puto sem paciência com todas as suas perguntas, mas é o jeitão deles. Compense elogiando muito quando seu prato chegar e ele vai abrir o sorriso de novo.
O site (e app para celular) Zomato é ótimo para descobrir lugares para comer pela cidade. Frequentemente ele tem horários de funcionamento corretos, o cardápio com os preços e recomendações de pessoas que foram lá.
A pausa para o cafezinho é super tradicional e vão existir vários cafés com mesa do lado de fora no seu caminho. Pare, peça um, beba com um docinho (que eles sabem fazer bem, os danados) para acompanhar. Faz parte de estar em Portugal, aproveite, geralmente o café é bem tirado, os grãos são bons e ainda é barato (entre 50 e 70 cêntimos de euro), provavelmente de grãos gourmet que vão direto das fazendas brasileiras pro porto de Santos.
Só um aviso: o espresso (em Lisboa, também chamam de “bica”) vem curto, bem concentrado. Para pedir o espresso com a quantidade de água que vem nos nossos, peça um “cafezinho cheio”.

Pastel de Belém é só em Belém, numa confeitaria (que em Portugal chama pastelaria) específica: a Confeitaria de Belém. Sempre tem fila nela e olha, achei que a Manteigaria faz melhor (falo dela logo abaixo). Tendo dito isso, se você for a Belém vale a pena entrar sim na Confeitaria de Belém e pedir um pastel, porque né. No resto do país, eles são chamados de pastéis de nata. Não confunda porque os tugas se irritam com isso. Ou confunda e irrite, enfim.
-> Dica para conseguir seu pastel de belém mais rápido na Pastelaria de Belém: entre e procure uma mesa vazia (ou fique de tocaia em um dos diversos salões da confeitaria, que vale a pena percorrer porque é bem linda e enorme mesmo). Do lado de fora tem uma fila para pedir pastéis para levar, mas geralmente ela demora mais do que sentar numa mesa e pedir o seu com calma.

Mateigaria é a casa dos melhores pasteis de natas de Lisboa. Sério, o recheio é muito cremoso e saboroso e a massa é folhada daquelas perfeitas que esfarelam para todo lado. Bota o Pastel de Belém no chinelo, sorry not sorry.
A primeira loja da Manteigaria fica no Chiado e sempre tem fila, mas tudo bem: é um balcão onde as pessoas podem entrar e comer de pé ou comprar caixinhas para levar, o atendimento é rápido. Adorei sentar no balcão de frente para a cozinha para ver as centenas de pastéis sendo feitos rapidamente. Ah, nunca se esqueça de polvilhar uma canelinha em cima do seu pastel de natas! Divino.
Mouraria, berço do fado
A Mouraria é o bairro onde nasceu o fado. Entrando por uma ruelinha você vai encontrar a casa onde a Maria Severa, cantora e prostituta que tirou o fado do submundo para o mundo. Era um bairro meio tenso uns anos pra trás (e algumas zonas ainda são, à noite), mas o governo se aliou à iniciativa privada para melhorar a segurança da zona.

A gentrificação está chegando forte e se por um lado ela expulsa os moradores antigos, por outro também trás segurança. Apoie negócios locais, quanto mais cara de tradicional melhor, para ajudar o bairro a não perder suas características que o fazem tão especial.
Vale muito a pena se perder pelas ruazinhas, subir por escadinhas, vielas, dar de cara com um beco sem saída, voltar, subir outra…

Zé da Mouraria: Tasca de almoços fartos e excelentes (chegue cedo, tipo 12h, ou reserve antes, porque lota). Quando eu digo farto, é farto mesmo: a meia porção serve duas pessoas com o estômago do meu tamanho. No dia que fui, tinha bife de atum grelhado com batatas e estava maravilhosíssimo.

Doce Mila: Uma pastelariazinha muito charmosa e antiga que fica dentro de um beco escondido na entrada da Mouraria: Beco dos Cavaleiros nº 15. É lá que se produz o autêntico Pastel da Mouraria (só pode ser chamado assim lá, tipo o Pastel de Belém só pode ser chamado assim na Confeitaria de Belém, perto da torre etc).

Ele é feito com uma massa de grão de bico super fininha e crocante (sim!) recheada de um doce de ovos, amêndoas, açúcar e magia secreta. Sério, é muito bom. O café lá também é bem tirado, peça um pastel, um café e sente-se na mesinha do lado de fora para curtir as vibes do bequinho.

Subindo, subindo, subindo pelos prédios velhos abandonados e os reformados novíssimos, no alto de becos e escadinhas, está o Café do Teatro Taborda, ou Café da Garagem. O teatro em si é super bonito (veja a programação e frequente!), o café só não abre às segundas-feiras. Além de ter cafés, bolinhos e coisinhas (meio caras, confesso), o que destaca mesmo é a vista sensacional de lá para Lisboa.

Excelente para descansar as pernas de tanto andar pela Mouraria – e depois seguir subindo para outros morros e miradouros, hehehe.
Para dançar
Fuja das baladas topzera da beira do Rio Tejo para encontrar os bares e casas de shows frequentados por portugueses e estrangeiros que moram em Lisboa. A cidade tem muitas associações culturais, que são centros culturais administrados por um grupo de pessoas, geralmente sem fins lucrativos. Só prepare-se para ficar defumada, porque em Portugal as pessoas fumam dentro de muitos estabelecimentos, especialmente à noite.

Galeria Zé dos Bois: Centro cultural SUPER MEGA legal que tem shows ótimos, galeria de arte, festinhas… os cartazes nas paredes já vão gritar que é uma casa com público de maioria LGBT (e amigos). São dois espaços, um maior (onde ocorrem os shows e tem a galeria de arte) e outro menor, com mais cara de casa-que-virou-balada. Se eu morasse em Lisboa, certamente iria sempre. Confira qual será o melhor dia da programação quando estiver em Lisboa e apenas vá

Ah, aliás, eu vi o Fado Bicha lá no ZDB. O Fado Bicha é um show de apresentado pela drag queen Lila Fadista, que canta canções tradicionais de fado com letras adaptadas à realidade LGBT, com muito humor e ativismo. Conheça o Fado Bicha e descubra onde Lila Fadista cantará enquanto você estiver na cidade.

Tejo Bar: Bar bem pequeno e íntimo na Alfama, que não tem nada a ver com os outros bares da Alfama. É onde vários músicos que vivem ou estão de passagem em Lisboa vão dar uma palhinha depois de tocar em outros lugares. Só começa a esquentar lá pelas 22h, 23h e vai até 2h da manhã ou mais.
É uma questão de sorte porque você nunca sabe quem vai aparecer pra tocar. No Tejo Bar, não se bate palmas, esfrega-se as mãos, como nos espetáculos de fado. Todos estão convidados a começar a cantar ou tocar, há um piano e outros instrumentos à disposição, mas muitos músicos também levam os seus próprios. Na noite que fui, uma cantora de fado deu uma canja incrível que nos fez chorar, uma dupla cigana tascou um tango no violino e acordeom e músicos de vários países diferentes tocaram música brasileira, da tropicália ao samba, improvisando juntos.
Quando a noite tá muito animada, a galera segue com a jam no largo de uma igreja ali próxima, que aliás tem uma vista linda de Lisboa. É frequentado por ninguém mais ninguém menos que Madonna. Pois é. Vá e tente a sorte, quem sabe ela (ou outros músicos foda) estão por lá?

Damas: Bar-boate que tem shows legais, djs de músicas do mundo e onde eu vi uma sessão coletiva de chatroulette (sim, aquele site que mostra pessoas aleatórias do mundo todo e onde costumam aparecer muitos pintos inesperados). Foi hilário! Bebidas a preço bom, excelente curadoria de música e de frequentadores, rs. Um lugar pra ir sozinha ou acompanhada, pra paquerar, fazer novos amigos, dançar, beber e ficar de boas.
Casa Independente: Excelente curadoria de shows! Quase todas as bandas que vão ficar famosas no mundo passam por lá. Além disso, fica num casarão lindíssimo na praça Martim Moniz, com muitos ambientes, decoração com móveis antigos, bons drinks e um terracinho super agradável pra passar as noites quentes do verão lisboeta. Fique de olho na programação e não deixe de visitar!

Crew Hassan: Associação cultural ótima. À noite vai parecer que está fechada, mas não deixe de se aproximar mesmo assim. Durante o dia e começo da noite, a parte de cima tá aberta pra drinks e comidinhas. O salão fica com as luzes acesas até mais ou menos meia noite. Depois disso, os donos convidam as pessoas que estiverem lá a descer e aparentemente fecham o Crew Hassan, mas é mentira!! Embaixo, meu bem, tem um pub super descolado, uma sala com mesas para os amigos conversarem e algumas mesas de pingue-pongue e uma outra sala que é um inferninho com djs ótimoooos! Recomendo muito, foi onde comemorei meu aniversário.