“O Brasil é seguro?”
De repente você se transforma num oráculo. Está lá, na sua frente, toda de bochechas rosadas, a curiosa irlandesa com sua havaianas e um Lonely Planet na mão. Do outro lado, você: a fonte mais precisa de informação sobre criminalidade no Brasil. Ao menos para ela.
E como responder se o Brasil é seguro? Por um lado, toda a referência que ela teve na vida foi Cidade de Deus e algum documentário sensacionalista no Independent. Sua primeira reação é jogar um “deixa disso” e explicar que não, você não cruza diariamente com o Zé Pequeno ao tentar comprar um pãozinho. Ao mesmo tempo, tem medo que a pobre menina se sinta em Zurique desfilando com seu MacBook novo em Copacabana. E óbvio que, em caso de arrastão, você sentirá mais culpa que católico de ressaca no Domingo de missa.

De todas as perguntas que me fazem sobre o Brasil, nenhuma faz eu escorregar minha dialética mais que sabonete de pastelaria. O fato é que, viajando há vários meses e tendo que responder essa pergunta semanalmente, tive que desenvolver um método.
Velho é quem tem 10 anos a mais que eu…
Meu sábio avô já me dizia. A percepção de segurança funciona mais ou menos da mesma forma. Na escala de segurança, o ponto zero acaba se ajustando à nossa realidade do dia a dia: perigoso é onde é pior que em casa.
Se formos aceitar esse princípio, então a resposta deveria ser diferente dependendo de com quem falamos. Um sueco? É sim, perigosíssimo. Com um mexicano? Não, nem tanto. Com um iraquiano? O Brasil é seguro.

Aos números…
Segurança pode ser determinada por vários fatores, dependendo do índice que você utiliza.
Pode incluir questões estruturais, como o acesso a transporte e hospitais, fenômenos meteorológicos como terremotos, ou estabilidade de conflitos ou ações armadas, por exemplo. Mas ao responder sobre segurança, vamos partir do princípio que estamos falando sobre crimes, e não sobre a possibilidade do país ter um tsunami ou entrar em guerra.
Não é preciso assistir Cidade Alerta. Quantos amigos na sua timeline são roubados por semana? Sabemos que o país não é lá o dos mais seguros. Mas temos noção do quanto?
Vivemos em um dos países mais inseguros do mundo
De acordo com o Numbeo, o Brasil é o 9º país mais violento, entre 118 estudados. A Forbes chamou recentemente o país de “a capital de assassinatos do mundo”. Temos a maior quantidade de capitais – 22 – na lista das 50 com mais homicídios. Com exceção de alguns países da América Central e África do Sul, temos a maior quantidade de assassinatos com intenção de matar. Também um dos maiores em roubos.
Um dos relatórios mais interessantes para nos compararmos ao resto das principais cidades do mundo é o do Economist, com Rio e São Paulo mal avaliados em “personal safety”. Ou seja, a probabilidade de ser morto a cada 100.000 pessoas é maior aqui do que em muitos países em constantes ataques terroristas.
Número de homicídios por 100 mil pessoas, Wikicommons, 2016 ou mais recente
Então a resposta é “Não”?
Se você tivesse que responder em apenas uma pequena frase, o mais honesto seria “Não, o Brasil não é seguro”. Mas as coisas complicam um pouco. Desse número de homicídios, interessante é que, olhando para dentro do Brasil, São Paulo ou Rio de Janeiro são bem avaliados em comparação a outras capitais, segundo o Mapa da Violência.
Isso é porque existe alta correlação entre pobreza e homicídios, então as regiões Nordeste, Centro Oeste e Norte lideram o ranking. Agora a situação se complica porque, mesmo dentro das grandes capitais, a chance de crimes violentos na periferia e subúrbio são muito piores. Infelizmente, a diferença é gritante. A chance de você ser vítima de um crime se estiver ou morar no Itaim Paulista, em São Paulo, são realmente maiores que nos Jardins. Ou nas favelas versus a Zona Sul no Rio de Janeiro. O pobre sempre se ferra.
Portanto nas regiões mais ricas, e onde estão também as zonas turísticas, o perigo de crimes violentos é comparável a outras cidades com alto desenvolvimento, como Nova York ou Londres.
… e a irlandesa?
Com tudo isso em mente, cada um tem a sua versão da resposta à famigerada pergunta. A minha, ficou assim:
“Não, o Brasil não é seguro. O Brasil é um país de contrastes, injusto, e intrigante por isso mesmo. Ir para lá é testemunhar o que é um país rico e pobre ao mesmo tempo, desenvolvido e sub-desenvolvido. Mas também, o quanto as pessoas conseguem ser felizes independente desses problemas.
Essa parte é quase tão interessante quanto o país em si. Você terá que aprender sinais e cuidados que não está acostumado, desde não tirar o celular em público, andar com vidros fechados, e até que meio de transporte utilizar. E nunca reagir. Os brasileiros, no entanto, estarão muito dispostos a ensinar, ajudar, e você aprenderá o que é ser recebido de braços abertos”.
E você, como responde?