O admirável palácio subterrâneo público de Moscou

Que tal uma aventura nos subterrâneos de Moscou? Quem viveu o restinho da Guerra Fria ou era fã dos filmes de espionagem (e, torcia para o espião soviético) precisa conhecer o metrô de Moscou – o monumento símbolo do triunfo socialista. Nessa viagem incrível, o destemido passageiro que enfrentar a malha ferroviária de 196 estações, distribuídas em 12 linhas e mais de 300 km de extensão, encontrará no seu caminho luxo, extravagância e muitas obras de arte.

Conhecido como “palácio subterrâneo” ou “palácio do povo”, o metrô de Moscou foi inaugurado em 1935, em pleno governo de Josef Stalin. O líder soviético exigiu que as estações fossem grandiosas com paredes de mármore, teto alto com lustres majestosos, mosaicos, pisos luxuosos e milhares de esculturas e decorações em alto relevo (o brilho dos palácios dos czares, agora, era para o proletariado).

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Estação Elektrozavodskaya (foto: flickr.com/serger)
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Detalhe da estação Elektrozavodskaya (foto: flickr.com/serger)

Em muitas estações, as obras de arte são inspiradas na revolução socialista, enfatizando as figuras de Stalin, Lenin e outros líderes soviéticos. Durante e após o fim do regime, uma ou outra trocou de nome e muitas obras de arte foram apagadas, mas essas estações continuam mostrando o realismo social que orientou a arte russa no período.

As estações que passam sob o Rio Moscovo são profundas, entre 30 e 50 metros. Em 2003, a Park Pobedi superou os 85 metros de profundidade da superfície. E outras, construídas durante a II Guerra Mundial, foram planejadas para serem abrigos em caso de bombardeio

Estação Park Pobedy (foto: flickr.com/jaime.silva)
Estação Park Pobedy (foto: flickr.com/jaime.silva)

Já as estações construídas sob os governos de Nikita Kruschev e Leonid Brezhnev, entre os anos de 1950 e 1970, têm arquitetura mais simples, apenas com azulejos, colunas, formas e cores que as diferenciam. Dos anos 1980 para cá, as novas estações voltam a ser escandalosamente decoradas e arrojadas.

Das imperdíveis, destaque para a  Kropotkinskaya (linha 1 vermelha), Ploshchad Revolyutsii (linha 3 – azul escuro) e, as estrelas das estações: Mayakovskaya, datada de 1938, que homenageia o poeta russo Vladmir Mayakovsky (linha verde), com 33 metros de profundidade e com mosaicos impressionantes no teto; e Komsomolskaya (linha vermelha 1), símbolo do auge do período stalinista que mostra toda a glória da arte tradicional russa.

Estação Komsomolskaya (foto: flickr.com/teflon)
Estação Komsomolskaya (foto: flickr.com/teflon)

As andanças por essas estações exigem ousadia. Isto porque não há placas e tão pouco mapas em inglês. Tudo está no alfabeto cirílico. Pela mesma razão, desista de pedir informações aos funcionários ou outros passageiros. Todo o mundo só fala russo. Então, a dica é: use um mapa com as versões do alfabeto em latino e cirílico e memorize a palavra выход (saída).

Nesse mundo subterrâneo, nem tudo é perdido: todas as linhas do metrôs têm cores que as distinguem. Nas linhas que seguem para os bairros, nos alto-falantes, uma voz feminina anuncia as estações, e as que seguem para o centro são anunciadas por uma voz masculina (olha aí, outra dica para saber o sentido certo a seguir!).

Estação Dostoevskaya (foto: flickr.com/chaoticmind75)
Estação Dostoevskaya (foto: flickr.com/chaoticmind75)

Dos czares, dos líderes socialistas e de escritores como Mayakovsky, Moscou é uma cidade que reúne histórias admiráveis registradas em seus monumentos, como a Praça Vermelha e o Kremilin. Mas suas estações de metrô são um verdadeiro desafio para os aventureiros e caçadores de obras de arte, seja na superfície ou nos subterrâneos.

Estação Slavyansky Bulvar (foto: flickr.com/serger)
Estação Slavyansky Bulvar (foto: flickr.com/serger)

Foto do destaque: Flickr – Matt Doughty