Reconversão, reconversão e reconversão. Essa é realmente a palavra de ordem na cidade de Berlim desde a queda do Muro que a cortava pelo meio e que a dividia em Ocidental e Oriental. Só para citar alguns dos exemplos mais emblemáticos, a cidade conta com uma antiga central elétrica transformada em nightclub, o Berghain; uma estação de trem, em museu de arte contemporânea, o Hamburger Bahnhof, e um bunker usado na Segunda Guerra e que hoje abriga a coleção de arte Boros.
O último espaço a ganhar uma nova utilidade é o antigo Palácio de Justiça do distrito de Charlottenburg-Wilmersdorf. Situado no número 79 de uma das principais avenidas do oeste da cidade, a Kantstrasse, o prédio foi construído em 1897, servindo ao Judiciário local até 1945, quando a Prefeitura passou a usá-lo como arquivo municipal, permanecendo fechado nos últimos cinco anos.
Alugado por 10 anos pela marca canadense de instalações luminárias Bocci e rebatizado como Bocci 79, o prédio de 2200m2 abriga agora seu show-room, numa espécie de portfólio vivo, em constante mutação. O local conta ainda com um laboratório para experimentações de materiais recorrentes nas suas criações, como vidro e cerâmica. (Permanentemente fechado)
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A empresa é reconhecida mundialmente por suas instalações luminárias site-specific. Dentre as mais marcantes, figuram a intervenção na escadaria central do prédio da embaixada do Canadá em Londres, em que as lâmpadas adentram como tentáculos no hall de cada andar; a instalação no grande átrio do Victoria and Albert Museum, cujo pé-direito de 30 metros contou com um imenso lustre durante a última edição do London Design Festival, e a entrada do hotel Fairmont Pacific Rim, em Vancouver, com “árvores”, cujas folhas de luz foram “plantadas” em bancos de madeira, proporcionando espaços de convivência e servindo de proteção contra os carros, que devem seguir pela lateral do prédio, em vez de cortar caminho pela entrada principal.
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Explorando todas as possibilidades físicas, químicas, mecânicas dos materiais, numa atuação interdisciplinar entre arquitetura, desenho industrial, engenharia de produto, escultura e artesanato, Bocci alia todo esse savoir-faire a experimentações, permitindo que muitas delas deixem o status de protótipos e passem a ser produtos integrados ao seu catálogo. Um exemplo é o carro-chefe da marca e primeiro produto a ser comercializado: a luminária 14, uma esfera de vidro maciço, com uma lâmpada LED ou xenon em seu interior e suspendida por um fino cabo coaxial, criando o efeito de “velas flutuando na água”.
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Como é de se esperar, o lugar mais lembra uma galeria de arte contemporânea do que uma loja de luminárias, e é um deleite para quem ama minimalismo. Até mesmo os consultores vestem jalecos em jeans, numa clara referência aos jalecos de laboratório dos vendedores das lojas Maison Margiela.
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Apenas um produto é exposto em cada sala ou espaço, deixando-o brilhar por si só. Os únicos outros objetos são as mesas e cadeiras, usadas para reuniões e consultorias prestadas aos clientes. O destaque, sem dúvida, é o vão central da escadaria principal, que contém uma instalação posta no topo do prédio, atingindo assim todos os seus seis andares.
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O lugar vale a visita e vai com certeza render fotos incríveis para o seu Instagram. E, se você não quiser ficar só lambendo os beiços, porque os preços atingem fácil, fácil os dois dígitos – de dólares – é só correr ao lado no antiquário Alte Lampen und mehr e descolar aquela luminária de cenário de filme do Fassbinder nos anos 70.
Serviço:
De terça a sábado: das 11h às 19h.
Kantstrasse 79, 10627 Berlin