SXSW 2025: R3 – Raízes. Redes. Regenerar

Do colapso à co-criação: o que o SXSW 2025 nos mostrou sobre o futuro ambiental

No SXSW 2025, o debate ambiental ocupou um lugar central — mas com mudanças importantes no tom e na direção. Em vez de apresentar apenas soluções tecnológicas para a crise climática, o festival trouxe à tona uma pergunta mais estrutural: é possível repensar a inovação sem antes reconfigurar a forma como nos relacionamos com o planeta?

Entre os destaques, a apresentação da empresa suíça Climeworks chamou atenção com uma proposta radical: capturar CO₂ diretamente do ar e transformá-lo em rocha. A promessa de “enterrar emissões” impressionou pela ambição e escala. No entanto, a cientista Katharine Hayhoe, do The Nature Conservancy, fez um contraponto direto:

“Remover carbono é importante. Mas sem zerar emissões e conter o desmatamento, seguimos enxugando gelo com secador.”

A crítica evidenciou uma fissura: o risco de reforçar o chamado tecno-solucionismo, em que a confiança irrestrita em tecnologias de ponta substitui mudanças estruturais no modelo de produção, consumo e governança.

É nesse contexto que o Brasil passou a ser mencionado como um exemplo de outra abordagem possível — mais territorializada, participativa e interdependente. O novo programa federal para adaptação urbana às mudanças climáticas, por exemplo, propõe o uso de infraestrutura verde, dados abertos e engajamento comunitário como ferramentas-chave. A lógica não é de cápsulas futuristas, mas de políticas públicas conectadas ao cotidiano.

Outras iniciativas brasileiras chamaram atenção por priorizarem a atuação local e o diálogo entre ciência e saberes tradicionais. É o caso da rede Baixada Viva, no Rio de Janeiro, que mapeia vulnerabilidades climáticas em comunidades da região metropolitana a partir de uma combinação de dados técnicos e práticas comunitárias. Em Manaus, o monitoramento de enchentes com apoio de sensores e satélites é realizado em colaboração com moradores ribeirinhos.

A arquitetura também foi tema recorrente no festival. Sean Quinn, da HOK, apresentou projetos de edificações que atuam como sistemas vivos: armazenam carbono, captam água da chuva e promovem biodiversidade. “A cidade do futuro não é uma máquina. É um organismo”, afirmou. Mas, como demonstram experiências no Vale do Ribeira e em bairros de Belém, nem sempre é preciso esperar o futuro para encontrar exemplos reais de construção integrada à natureza.

Do ponto de vista da infraestrutura digital, o papel de empresas de monitoramento como GHGSat e ICEYE foi amplamente discutido. A promessa é clara: uso de imagens de satélite e sensores para rastrear emissões e impactos ambientais com alta precisão. Mas a questão central permanece: quem acessa esses dados, e com que finalidade? Sem democratização da informação, mesmo a tecnologia mais avançada corre o risco de reforçar desigualdades já existentes.

No encerramento de um dos painéis, uma pergunta surgiu nos bastidores e resumiu o espírito do evento:

“Estamos realmente pensando soluções ou apenas evitando mudanças?”

O futuro, sugerem os debates mais contundentes do SXSW 2025, não virá de uma única direção. Exigirá articulação entre tecnologia, território e transformação cultural. Raízes, redes e regeneração — mais do que palavras de efeito, parecem apontar para um novo ciclo de pensamento ambiental: menos centrado em controle e mais atento à escuta, à interdependência e à complexidade do mundo vivo.