Ainda que 52% do público do Roskilde Festival sejam mulheres e do grande foco que o evento têm em sustentabilidade, o programa do evento está longe de entregar esta proporção. O festival entende que é um problema não ter mais minas representando a indústria musical, mas eles preferem focar no crescimento artístico do que forçar uma distribuição de 50/50 esperado pelo Keychange Pledge – que foi assinado por apenas dois festivais na Dinamarca e não inclui o Roskilde.
Mas será que isso importou? A verdade é que, absolutamente todas as críticas e reviews do público só reforçam que as mulheres foram as melhores atrações e entregaram a melhor experiência durante o evento deste ano.
O foco sustentável do Roskilde, em termos de line-up, é oferecer diversidade não só em gênero mas também em estilo musical, geografia e etc. Por isso, dentre as 183 atrações musicais, ainda que nem metade fossem mulheres, elas eram “the talk of the town” no dia seguinte.
Ainda que o flamenco pop seja um fenômeno totalmente novo, Rosalía lotou o terceiro maior palco do festival e mostrou que veio para ficar. Em um show desenhado para entreter, a cantora dançou e interagiu com o público deixando todo mundo com um gostinho de quero mais.
No mesmo dia, Christine and the Queens fez a galera e dançar até a madrugada. A francesa Héloïse Letissier e sua banda de electro-pop não podem ser melhor descritos do que com a palavra “show”.

A queridinha da Escandinávia Robyn fez o melhor show de pop da Dinamarca – de acordo com várias publicações locais. Apesar de ser figurinha repetida nos festivais do norte europeu, e ter participado do Roskilde inúmeras vezes, Robyn conseguiu entregar um show impressionante e não deixou ninguém dançando sozinho. Em uma hora e meia de show a sueca fez uma festa pop de dar inveja e se emocionou muito com o coral do público em suas músicas (se liga no vídeo abaixo).
O show da Janelle Monáe, apesar de milimetricamente pensado, foi sem dúvida um dos melhores desta edição. O público dinamarquês não gostou de seus discursos humanitário-político-melosos mas aprovou seu poder feminino que estava representado até na sua calça em forma de vulva.
Depois deste show de ativismo, a galera correu para o outro palco para curtir a estrela do momento: Lizzo. Ainda que ambas artistas foquem em temas similares como: etnia, sexualidade e identidade, Lizzo deixa a conversa num tom mais pessoal, com muita energia e amor próprio. Ainda que ela não rebolou e tocou a flauta tanto quanto a galera esperava, o show foi realmente um dos mais marcantes deste festival e já fez a americana marcar uma volta a Dinamarca para um show solo no final do ano (que esgotou em poucos minutos).

Difícil falar de todas as mulheres que marcaram o festival para mim, porque foram VÁRIAS! Então se você ainda não conhece, dá um pesquisada nessas: Fatoumata Diawara, Alma, Khruangbin (ah, aquela baixista!), Silvana Imam, Jorja Smith, Cupcakke, Madame Ghandi.
Esta foi a minha terceira vez no Roskilde Festival e a segunda vez acampando. Lanço este disclaimer logo no começo, porque tenho que admitir que não sou fã de acampar (nem em festivais, nem fora deles). Ainda que o Roskilde Festival seja menor que o Glastonbury ou o Coachella, no total são mais de 130.000 pessoas (!). É um grande festival. Mas também é a semana mais esperada do país, não só pelos jovens mas por todo mundo – já que o festival rola há 49 anos e constrói uma cidade durante o tempo que acontece.
O Roskilde evoluiu muito no tempo em que existe. O foco em sustentabilidade nos últimos três anos, transformou o Roskilde em um dos festivais mais sustentáveis da Europa – e não só no quesito ambiental. Se você já teve a experiência de ir a um festival onde você acampa, sabe que o perrengue pode ser um pouco maior para as mulheres.
Por exemplo, uma mulher chega a passar em média 6 minutos na fila do banheiro de um festival, enquanto os homens demoram 59 segundos (ughhhh) – ou não esperam nada se resolvem usar a moita. Mas este ano, tudo mudou! CHEGARAM OS MICTÓRIOS FEMININOS!! É isso mesmo, agora você, eu e a amiguinha podemos fazer xixi com privacidade, de pé e sem perder um show inteiro pra isso. O festival tinha 48 mictórios femininos, o que ajudou e muito a aliviar as filas do banheiro. Eu apareci em um, com a cara e coragem e até recebi dicas de como usá-lo da amiga atrás de mim que já tinha usado antes.

O Roskilde Festival sempre entrega uma semana divertida e em 2020 eles celebram 50 anos de festival. Se você não quiser perder o #RF50 compre já seu ingresso – dá até pra dividir em parcelas (!).
Até lá, que tal curtir doidos do Brockhampton (quase uma mistura de One Direction e Beastie Boys) que se auto-intitulam boyband e estão rompendo os esteriótipos do rap americano ao falar sobre homossexualidade abertamente. O show deste seis rappers hiperativos foi um dos meus favoritos deste ano, especialmente pelas dancinhas e outfit coordenados.
*Foto destaque: Robyn – Roskilde Festival 2019 / divulgação festival fb