Tarsila do Amaral ganha retrospectiva no MoMA, em NY

No futebol nós temos Pelé. Na arquitetura nós temos Niemeyer. Se tem um artista que merece o trono da arte brasileira, e o carinho de ser chamado só por um nome, essa pessoa só pode ser Tarsila. É muito provável que a maioria das pessoas que você conhece não consigam nomear um único quadro famoso além do Abaporu. A pintura completa esse ano 90 anos de existência, e continua sendo a mais forte representação da cultura brasileira para nós. E nesse ano de comemoração, a obra da artista paulista chega ao mais importante museu de arte moderna do mundo. Foi inaugurada no último dia 13 a exposição “Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil” no MoMA, em Nova York.

Tarsila no MoMA, exposição
Exposição ‘Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil’ – foto: MoMA

A retrospectiva é a maior e mais completa já montada fora do Brasil, e a primeira nos Estados Unidos. Nova York parece ter abertos os olhos para a arte brasileira recentemente, com exposições dedicadas a alguns dos maiores artistas nacionais: Lygia Clark, Lygia Pape, e recentemente Helio Oiticica no Whitney. A chegada da Tarsila no MoMA traz a força do movimento antropofágico, que abriu os caminhos da arte moderna por aqui, e que pavimentou o caminho para os outros 3 pudessem criar décadas depois.

Tarsila do Amaral veio de uma família de fazendeiros do interior de São Paulo, e largou os estudos nas escolas de arte paulistas por considerá-las muito tradicionais. Em 1920, ela desembarcou em Paris, onde aprenderia de mestres como Fernand Léger e entraria em contato com o epicentro do modernismo no mundo. Em suas próprias palavras, a experiência deixou Tarsila ‘contaminada de ideias revolucionárias’,  que a fariam canibalizar seu aprendizado em serviço de uma nova arte brasileira. A vida no campo, a mistura de raças, a fauna e o folclore, sua obra se debruça sobre a brasilidade com intensidade. Ela digere as influências das vanguardas estrangeiras e expele uma arte originalmente nacional. Tarsila foi uma das precursoras da antropofagia brasileira junto com Mario e Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Victor Brecheret e tantos outros, que juntos fizeram a transformadora Semana de Arte Moderna em 1922.

A exposição do MoMA traz os quadros mais importantes da obra da Tarsila, desde ‘A Negra’ – uma de suas primeiras pinturas em Paris – passando por ‘A Cuca’, até o emblemático ‘Operários’, que ela mesma considerava sua mais importante. E, sim, o Abaporu saiu do Malba, em Buenos Aires, para a grande festa. Uma pena que a gente não consiga trazer a retrospectiva toda para cá. Então quem tiver com passagem marcada por Nova York não pode perder essa chance única. A exposição abre com a frase dita pela Tarsila em 1923, ainda em Paris: “Quero ser a pintora do meu país”. A se considerar pelo legado que deixou – e pelos letreiros lindos em plena Times Square – ela cumpriu sua promessa.

Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil
Museum of Modern Art – 11 West 53rd St. – Nova York
De sábado a quinta, das 10h30 às 17h30. Sexta, das 10h30 às 20h
Até 3 de junho