Exposição Queermuseum vai voltar no Parque Lage

O ano passado foi marcado como o ano em que o brasileiro perdeu as estribeiras. Enquanto o ‘acordo nacional com tudo’ se confirmava a olhos vistos, o cidadão médio esbravejava como cão raivoso contra exposições de arte que supostamente feriam os bons costumes. Mas, como bem lembrou a marca Absolut em sua campanha de 2017, arte é resistência, e por isso a mostra mais acachapada do ano passado volta agora, com força, e apoio popular.

A exposição ‘Queermuseum: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira‘ teve sua volta confirmada na semana passada, depois de ter sido cancelada prematuramente em Porto Alegre por pressão de grupos conservadores e milícias políticas. Agora ela acontece no Rio de Janeiro, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a partir da segunda quinzena de junho.

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Detalhe da obra ‘Travesti de lambada e deusa das águas’, da artista Bia Leite (2013)

Dessa vez, nada vai poder frear a exposição de acontecer, já que o financiamento da exposição não será feito por uma entidade que esconde seu viés comercial por trás do fomento cultural. Toda a grana que vai financiar o Queermuseum agora veio de um projeto de crowdfunding, que não só atingiu a meta inicial de 690 mil reais, como já bateu a segunda meta de 800 mil, e a terceira de 1 milhão.

A meta 1 era necessária não só para colocar a mostra de pé, mas também para fazer reformas e adaptações nas Cavalariças do Parque Lage, que passará a funcionar como mais um espaço expositivo no Rio. As outras duas tem como intuito a criação de um projeto educativo que vai funcionar como uma plataforma de debates sobre questões ligadas a inclusão, empatia e liberdade de expressão artística.

Queermuseum – English version from EAV Parque Lage on Vimeo.

É muito bom saber que tem mais gente interessada em abrir os caminhos do diálogo e da tolerância. O sucesso da campanha é uma resposta bem clara à declaração do prefeito do Rio Marcelo Crivella, que afirmou que a população da cidade não queria a exposição, mesmo sem ter feito qualquer consulta pública a respeito. Agora basta esperar junho para que todo mundo possa ver a verdade sobre a exposição. Quem sabe os cães raivosos aprendam a ver arte sem seus tantos preconceitos.

E espero ainda que o Queermuseum consiga em breve rodar o Brasil.

*Foto do destaque – Divulgação da exposição original em Porto Alegre.