De onde sai a inspiração dos artistas? Eu acho que vem das alegrias e medos que guardamos no fundo de uma gaveta bem escondidinhos (eu só acho!). Vez ou outra, um destes artistas, mesmo sem querer, abre a gaveta e boom! … provoca uma série de sentimentos em nós: curiosidade, terror e diversão – tudo meio misturado.


Qual seria a intenção da artista britânica Cornelia Parker ao recriar a casa da família Bates, do filme Psicose, no topo do Metropolitan Museum of Art (o Met, entre os mais íntimos)? Será que ela pensou assim: “ah! quem nunca sonhou em visitar a casa de Norman e Norma Bates?”. Poderia ser isso mesmo?! Para os aficcionados em cinema, o suspense/terror de Psicose e a genialidade de Alfred Hitchcock provocam inquietude, empatia e diversão.

Porém, na verdade, Cornelia só desejava criar um site specific que contrastasse com a paisagem repleta de edifícios que o horizonte de Manhattan proporcionava daquele ponto. De primeira, ela pensou em construir um celeiro vermelho (red barn) – uma construção tradicional das áreas rurais dos EUA.
‘Fiquei curiosa com a cor vermelha dos celeiros e descobri duas explicações: dizem que os fazendeiros ricos misturavam sangue de um abate recente ao óleo de linhaça. Quando a pintura secava, de brilhante ela passava para um vermelho queimado. E dizem que, também, os fazendeiros colocavam ferrugem à mistura do óleo. A ferrugem é um veneno para mofo e musgo. De um jeito ou de outro, o fato é que, da colonização ao século XIX, era moda ter um celeiro vermelho’ – relata a artista.
Mas, voltando ao problema de Cornelia: ela não pôde transpor um celeiro para o lugar. As dimensões eram grandes demais e exigiriam uma demanda de tempo e trabalho. Então, segundo a própria artista, ela estava andando pelos corredores do Met e viu umas pinturas de Edward Hopper, pintor norte-americano, reconhecido por suas paisagens rurais com celeiros vermelhos.

Em uma outra visita ao Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, ela ficou sabendo que a obra chamada By The Railroad, 1925, de Hopper, teria sido a inspiração para a casa dos Bates, construída em 1959, na Universal City Studios, para a produção do filme Psicose. Olha aí, a última peça para a inspiração completa de PsychoBarn – escultura que está lá no topo do Met.

A obra tem cerca de 9 metros de altura e é fabricada a partir de um celeiro vermelho desconstruído. À primeira vista, parece uma casa real, mas é somente uma estrutura com duas fachadas apoiadas por andaimes. Vou te contar que a casa dos Bates feita por Hitchcock também era fake. Com o orçamento curto, os diretores de arte usaram uma casa já existente na Colonial Street (dentro da Universal Studios).
Viram? Então, as referências de Hopper e Hitchcock se juntaram e deram na criação de PsychoBarn que, por sua vez, nos desperta associações psicológicas vindas dos espaços arquitetônicos, representados pelo topo do Met (bem acima do Central Park), a sinistra casa dos Bates e os arranha-céus de Manhattan.
Ficou curioso? Quer tomar um chá na casa dos Bates? Prepare-se as filas estão grandes, mas nada é tão assustador assim. A instalação fica no Met até 31 de outubro de 2016.