Guaraná, como conhecemos no dia a dia, é um conceito abstrato de gosto. Em 1921, o refrigerante que conhecemos tão bem foi criado pela antiga Companhia Antarctica Paulista para se tornar um ícone brasileiro. Ficou tão popular que o próprio nome guaraná está marcado no imaginário coletivo mais como uma bebida do que como a fruta que a origina. Mas até chegar na sua mesa, aquela garrafinha verde de ‘champagne sem álcool’ carrega todo um universo social, cultural e ecológico, quase impossível de se imaginar.
Originário da Amazônia, o guaraná era usado pelos índios da tribo Saterê-Mawé por conta de suas muitas propriedades energizantes. Isso porque a fruta tem guaranina, similar à cafeína, mas com efeito de 4 a 7 vezes mais forte. Sendo mais específico, esse nutriente (e muitos outros) ficam na semente, que é separada da casca e da polpa, torrada, e só então ralada para fazer o pó ou o extrato que vai para o refrigerante. Entre os efeitos do consumo do pó de guaraná estão: aumento de energia, perda de peso, melhora da circulação do sangue, estímulo da libido, diminuição do estresse, eliminação de toxinas, entre outros. Ufa! Deu para ver que guaraná é coisa séria para a saúde.

Eu fui convidado pela equipe do Guaraná Antarctica para me embrenhar Floresta Amazônica adentro para ver de perto a origem da fruta mágica. A viagem coincidiu ainda com a 37ª Festa da Colheita do Guaraná, que acontece sempre no fim de novembro, celebrando a temporada anual de colheita do fruto, na pequena Maués, a 356km de Manaus. A cidade é conhecida não só por ter uma das maiores e melhores produções de guaraná do mundo, mas também por ter uma das mais altas expectativas de vida do país. Até o fim desse texto, você provavelmente vai encomendar também seu estoque de guaraná, quer ver?
Expedição Amazônica
A nossa viagem começa com uma passagem rapidíssima por Manaus, pingando rapidinho no Mercado Central e no suntuoso Teatro Amazonas, e logo corremos para a marina para fazer check-in no nosso transporte-hotel nos 6 dias seguintes. Saímos da capital no começo da noite para chegar a Maués apenas no dia seguinte, já depois do almoço. A ida, que segue o curso torrencial do Amazonas e seus afluentes, demora de 18 a 20 horas. Nem preciso dizer que a volta, rio acima, é ainda mais longa. O trajeto é lento, mas não monótono, pois é impossível não ficar embasbacado com a exuberância da maior floresta tropical do mundo.

A chegada a Maués impressiona, porque a cidade não é nada do que se espera de uma comunidade descendente de indígenas escondida no meio da Amazônia, acessível principalmente por barco. Começa que são quase 60 mil habitantes lá. Segundo que a margem do Rio Maués Açu, em sua maior parte, é tomada por uma grande praia de areia branquinha que deixa muito litoral no chinelo. Tudo muito lindo, mas mal temos tempo para aproveitar a vista. Para conhecer cada detalhe que envolve a origem do Guaraná Antarctica precisamos aproveitar bem o tempo.

Da terra para o copo
Tudo começa na Fazenda Santa Helena, mantida pela Ambev não tanto para colher o próprio guaraná, mas como um centro de excelência na produção de mudas e na formação de produtores da região. Por ser um cipó, o guaranazeiro se enrosca nas árvores à sua volta para chegar lá no alto das copas e pegar mais sol. Colher frutas assim não seria nada fácil, então a plantação é toda feita em clareiras abertas na mata, onde os pés não passam da altura de arbustos.

Mas a área da fazenda usada para a plantação é de apenas 20%, mantendo a taxa de preservação de mata original determinada pelo Governo do Estado de Amazonas. Isso faz da lavoura um tanto incomum e linda: ao redor dos guaranazeiros, um paredão verde gigante fecha todos os lados.

Na fazenda, o guaraná passa pela colheita, lavagem, torra e ensacamento. De lá, ele segue para o centro de extratos, onde as sementes dão origem ao sumo que depois vai virar o refrigerante.

Falando em qualidade, o guaraná de Maués é o melhor que existe em termos de sabor, adstringência e abundância. Por isso a Ambev tem um programa tão intenso de formação das famílias ribeirinhas, que vai do plantio à torrefação. Toda a produção da região feita por essas famílias é comprada pela empresa, desempenhando papel determinante na economia local.
A vida ribeirinha
Nosso tour inclui também a visita à propriedade do Sr. Natanael. Ele mora com a família em uma casa isolada no meio da mata, afastado mais de uma hora da cidade. A casa, simples mas muito digna e bem cuidada, revela sua ascendência saterê-mawé: A construção principal abriga apenas os quartos e uma pequena sala onde há uma TV de plasma. A cozinha e a sala de jantar ficam em uma área coberta mas aberta ao lado. O banheiro é uma pequena cabana de madeira no fundo do quintal.

Ao redor, a enorme plantação de guaraná divide espaço com um galinheiro e um pomar com manga, limão, cidra, jambo, urucum, e outras que eu não tenho condições de identificar. Sr. Natanael ensina como faz a própria torra das sementes com o mesmo orgulho que mostra as peles de animais selvagens penduradas na parede, que ele mesmo abateu. Tento conversar com as crianças, filhos e sobrinhos do Sr. Natanael, e descubro que gostam de matemática, enquanto assistem um episódio do Chaves em uma tela de celular minúscula. Vão todos os dias à escola em um barco da prefeitura, que passa pelo rio recolhendo os alunos. As crianças só se soltam, e ficam extasiados, quando um dos nossos liga o drone e o põe no ar.

Celebrando o guaraná
Entre uma visita e outra, nós encontramos tempo para relaxar e aproveitar um pouco do nosso paraíso ribeirinho. A água morna do rio convida a um bom mergulho, ou uma volta de stand-up paddle ou até de wakeboard. Precisamos recarregar as baterias para aguentar 3 dias intensos de festa.

A Festa da Colheita do Guaraná atrai todos os anos gente de todos os cantos do Amazonas e Pará para Maués, com muita comida, atrações musicais poderosas e muito guaraná, claro. A areia da praia é tomada por uma estrutura enorme de palco, iluminação, caixas de som e camarotes. Em volta, barraquinhas de comida e bebida dividem espaço com um parque de diversões humilde e banquinhas de jogos com ar de quermesse. É a Coney Island do Amazonas.

É impossível escapar de experimentar pelo menos uma iguaria com o ingrediente homenageado. Sou convidado a provar o licor de guaraná (parece catuaba) e o ‘iogurte da longevidade’, que nada mais é que iogurte caseiro batido com pó de guaraná e alguma fruta. No meu caso morango, que me soa como algo trazido por OVNIs ali. Só refugo quando me oferecem o famoso e muito consumido Guaraná Turbinado: uma mistura que leva guaraná, açaí, amendoim, aveia, abacate, ervas, e outros ingredientes mais. Se para viver 100 anos eu depender disso, acho que me contento com uns 80.
O primeiro dia é marcado pelo concurso da Rainha do Guaraná. As candidatas representam os bairros e regiões do município, e trazem fã clubes com bandeiras e muita torcida. Os critérios julgados são difíceis de entender, e o resultado é um tanto controverso, deixando a plateia agitada. A noite termina com o set de um DJ de estilo único, extremamente eclético e ansioso, juntando hits de rock, disco, pop, forró, sertanejo, axé, pagode e outro em trechos de no máximo 30 segundos. DJ Luis Augusto me conquistou.

A segunda noite tem entre outras atrações a encenação da lenda do guaraná. Segundo as crenças saterê-mawé, um curumim bondoso, saudável e forte despertou a inveja do pajé, que o matou. Sua mãe, devastada, recebeu um aviso do deus Tupã para que enterrasse seus olhos separados do corpo, e esses olhos brotaram como guaranazeiros. O espetáculo de dança, super bem produzido, prende a atenção principalmente das crianças, e ajuda a manter a cultura indígena viva.

O terceira e última é disparada a mais cheia, já que é noite de headliner. Este ano temos o sertanejo Gusttavo Lima, que eu pouco conheço, mas que arrasta multidões apaixonadas. Ao meu lado, uma fã chamada Thalia carrega cartazes dizendo que já tinha ido a mais de 100 shows do cantor, e esperava nessa noite conseguir abraçá-lo pela primeira vez. Ela viajou 12 horas em um barco com redes para chegar até lá. Uma senhora atrás tem uma camiseta do filho deficiente para conseguir um autógrafo. A emoção de ver o astro é tão grande que Dona Zete cai desmaiada na areia logo no começo do show. A compensação chega quando ela é chamada para subir no palco e, ao ser perguntada sobre seu nome, consegue apenas responder: ‘eu vou morrer!’ A festa não acaba antes do grande DJ LA subir novamente às pickups e soltar mais um set variado e complexo.

A viagem acaba com um dia calmo e esplendoroso cortando a imensidão do Rio Amazonas. Para coroar essa jornada, somos presenteados com um pôr do sol digno de um Monet, e uma noite estrelada contra a escuridão profunda da Floresta Amazônica. Obrigado por essa, Tupã!

Para ver o álbum de fotos completo dessa viagem, dá uma olhada no Facebook do CoP.
Essa viagem é parte de uma parceria do Chicken or Pasta com o Guaraná Antarctica.