Já faz bem uns 10 anos que Miami vem se transformando, e acabando com a imagem tradicional que os turistas tem de compras, praia, cadillacs e flamingos pink. Desde a chegada de uma das maiores feiras de arte do mundo, a Art Basel, em 2002, esse quintal da classe média-alta brasileira tem se tornado uma das cidades com a cena artística que mais cresce no mundo. Além do evento de alcance mundial e o novo e fervilhante distrito das artes, em 2013 Miami recebeu um reforço de peso para e estabelecer como um centro também de cultura: o Pérez Art Museum Miami, ou para os íntimos, PAMM.
Antigamente conhecido como Miami Art Museum, o museu ocupava antes um galpão projetado por Phillip Johnson na Flagler St., mas mudou de nome na inauguração do complexo novo, graças a uma doação de US$35 milhões do colecionador Jorge M. Pérez, junto com outros US$100 milhões de investimentos públicos para a construção. E que construção! Com só 3 andares, o prédio novo parece uma casa linda, mas em escala gigantesca. São mais de 18,5 mil m² de área, sendo 7,5 mil m² só de área externa.

O projeto do museu é dos arquitetos suíços Herzog & deMeuron, responsáveis também por megaprojetos como o Ninho das Olimpíadas de Pequim, e teve como inspiração as casas de madeira suspensas sobre a água de Stilisville, no meio do mar ao sul de Key Biscayne. São vários blocos de vidro e alvenaria branca flutuantes, uma delicada cobertura reta de madeira sustentada por pilares longos e finos, e enormes cilindros de jardim exuberante pendurados do teto, regados pela própria captação de água da chuva. É tudo muito simples, mas muito bonito.

Isso sem contar com a área em volta. O museu foi construído no meio do antigo Bicentennial Park, agora rebatizado Museum Park, dividindo espaço com o Patricia Frost Museum of Science. Para apreciar a vista incrível que se tem do parque e do mar de lá, toda a volta do museu tem grandes varandas com bancos, poltronas e balanços, ótimos para perder tempo jogando conversa fora. No térreo, logo na entrada, ainda tem um restaurante e um bar bacanudos e uma loja de presentes que é uma tentação. Prepare o bolso e o desapego, porque dá vontade de levar tudo. Os espaços expositivos dentro são todos muito amplos, a maioria com janelões abertos para o exterior, e um curioso auditório ocupa uma grande escada de circulação, com fechamento feito por pesadas cortinas de tecido. E espalhados por vários cantos do museu, você ainda encontra uma série de espaços menores, que podem ser usados para estudar, fazer reuniões, e até alugar para eventos.

Tá, mas e a arte? Confesso que com uma arquitetura dessas, a arte pode acabar em plano secundário. Mas isso não quer dizer que não valha a pena também. O acervo é relativamente novo, mas já conta com mais de 1800 peças e nomes do calibre de Olafur Eliasson, Frank Stella e Diego Rivera, para citar só os mais conhecidos. O foco é arte do século XX e arte contemporânea, bem como cultura dos países atlânticos (Américas, Europa Ocidental e África). Além disso, eles tem montado exposições temporárias e algumas individuais com os maiores nomes da cena atual, e em 2 anos já passaram por lá o chinês Ai Weiwei, o catalão Antoni Tàpies, a cubana Amelia Pelaez e a brasileira Beatriz Milhazes. A exposição do primeiro ainda foi cercada de polêmica quando o artista da Flórida Máximo Caminero quebrou um vaso colorido de uma obra avaliada em US$1 milhão, para protestar contra a falta de trabalhos locais no museu. Acabou preso e condenado a prestar 100 horas de trabalhos comunitários, além de 18 meses de liberdade condicional.

Além disso, esculturas, instalações e obras interativas integram os espaços expositivos externos, nas varandas e jardins do museu. Por ali já estiveram uma geodésica futurística inspirada pelo trabalho do arquiteto americano Buckminster Fuller, peças de Jedd Novatt e Mark di Suvero, e uma instalação bem relaxando do designer Konstantin Grcic. O sucesso do museu até agora é tão grande, que no primeiro ano eles esperavam 60mil visitantes, e tiveram 150 mil só nos primeiros 4 meses. Não é de se admirar.

Chegar no Pérez não poderia ser mais fáci. O Museum Park fica na Biscayne Blv., bem ao lado do American Airlines Arena, e colado na MacArthur Causeway, ponte que leva para Miami Beach. Uma ótima opção para chegar lá é pegar o Metromover, trenzinho elevado gratuito que circunda o centro da cidade, e descer na estação Museum Park.

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