DO’S & DONT’S: Viajando com adolescentes

Pesquisando sobre o tema “viajar com adolescentes” eu percebi que não faltam informações sobre como viajar com bebês, crianças, cães, gatos, aves, sogra… Sobre adolescentes tudo que me apareceu na busca foram formulários de autorização para menor desacompanhado, aqui e ali um roteiro, umas listas meio medonhas  do tipo “os 10 melhores Mc Donalds do mundo”, mas nada que adicionasse valor ao tipo de viagem que resolvi fazer com a nossa filha mais velha, hoje com 15 anos. Isso me fez perceber, assumir e afirmar que falar sobre adolescência (até dentro do contexto super light que é viajar) é sim um tabu, pois além de toda a complexidade do tema, também significa “chegaram os problemas” e “como progenitor estou envelhecendo”.

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Eu sou a Priscilla (36), casada com o Pedro, mãe da Mariah (15) que por sorte aos cinco anos  já levava sete países na bagagem e do Cayo (2) um pequeno português, made in Cuba e nascido em Amsterdã… Meu reinado como mãe, musa e melhor amiga da filha durou pouco mais de uma década e nos últimos quatro anos todos os meus títulos e medalhas foram “suspensos” e claro que os receberei de volta no meu aniversário de 60 anos. Depois de massacrar bem o ego, decidi compartilhar a minha experiência pessoal de mãe-viajante, e torcer que ela possa ajudar de alguma forma aos que, assim como eu, um dia acordaram e perceberam que miraculosamente-do-dia-pra-noite, a criança já não é mais criança.

Acho que é bem importante lembrar que dos 11 aos 13 anos, o ser humano passa por uma mudança biológica muito intensa. Ossos crescem, hormônios disparam, emoções ficam a flor da pele – possível causa da eterna irritação e falta de vontade ou timidez e complexos. Levar isso em consideração vai tornar mais fácil a abordagem de qualquer dilema ou conflito. Não é preciso dizer que paciência e empatia são palavras super importantes dispensadas com quem está trancado(a) dentro do um corpo nessa situação. A tendência é melhorar, pois o corpo vai se adaptando e o diálogo acaba ficando mais fácil. Injetar uma dose de confiança com responsabilidades assinaladas também ajuda bastante a conseguir manter a proximidade.

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Alguma hora isso (tinha de e) vai acontecer: você, cara a cara com um(a) adulto(a) com vida, pensamentos, erros e acertos próprios. Seu (ex)bebezinho cutie-cutie, que ainda ontem viajava no colo, agora tudo o que mais quer é não ser envergonhado(a) por você na frente dos amigos. E “se não for pedir demais” que os os seus sentimentos e opiniões (incluindo onde ir, o que fazer e onde comer durante uma viagem) também sejam considerados.

Diferenças

Viajar com bebês (0-2 anos)

“Ai, que maravilha! Não precisa pagar dois lugares, ela(e) vai no meu colo!…” Se arrependimento matasse (você que viajou intercontinental – sem partner, sabe bem do que eu estou falando) teria morrido logo ali na primeira vez que precisou ir ao banheiro, mas o avião todo já dormia, e ainda não era nem metade do caminho. E você teve que aguentar calada(o), com todo aquele peso na bexiga até o estranho da cadeira ao lado acordar e te socorrer. Não vou descrever todo o calvário. Resumindo: é um barato que sai caro, e quem tiver a possibilidade de investir na compra de uma cadeira extra para voos com 5 ou mais horas de duração ou uma na executiva, que o faça sem remorsos! Testei o céu (13hs em executiva) e o inferno (13hs em econômica, com 12kg ao colo). Recomendo o céu sem nenhum pudor.

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Viajar com crianças (2-10 anos)

A gente perde o desconto, mas acaba por perceber que não perdeu nada, pois viajar com um bebê de colo em uma única cadeira é realmente muito desgastante para ambos. Quanto maior for a criança, mais evidente fica essa necessidade e o benefício de a criança ter um assento próprio. Viajar com uma criança até os dez anos é maravilhoso: tudo flui, o que os pais decidirem está ótimo, para eles os pais são icônicos e representam a autoridade máxima de conhecimento universal e fonte inesgotável de dinheiro. Uma fase maravilhosa… Que passa.

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Foto: ISchmidt – shutterstock.com

Viajar com adolescentes (11-17 anos)

Para quem não sabe: pai e mãe possuem data de validade e expira aproximadamente 11 anos depois que o filho nasce (uns duram mais, outros um menos). Sim, os pais apodrecem e de super heróis passam a ser “cafonas”, “chatos” ou com sorte só “desatualizados”. Existe alguma verdade nisso: se cumprirmos pelo menos uma das missões como pais e mães, nossos filhos serão os responsáveis pela resolução de problemas que a nossa geração e todas as antepassadas deixaram para eles. A parte boa é que eles ainda não sabem disso.

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Foto: ISchmidt – Maxim Blinkov – Shutterstock

Dicas

Quando o cafuné e as histórias de ninar já não surtirem efeito e os interesses forem somente em torno de música, moda, jogos, tecnologia ou arte… Hora de escolher um destino, fazer um roteiro e viajar juntos! Mas antes de tudo isso, vale considerar o seguinte:

Mariah com 14 anos no seu primeiro festival (Optimus/NOS Alive) em Lisboa. Foto autorizada!

Sobreviver ao período da adolescência ou ser responsável por um adolescente é igualmente desafiante. Não existe fórmula para fazer dar certo mas é possível tentar construir um cenário ideal onde pais e filhos curtem juntos e existe um equilíbrio composto por atividades e roteiros onde os interesses de ambos intercedem para garantir a conexão, interação e sintonia de todos. Durante uma viagem, filhos têm uma urgência enorme por se sentirem úteis, apreciados, importantes e não calados a cada sugestão e nem sujeitos à horas de espera em programas desestimulantes. Para nós, pais, a urgência está em não deixar a vida passar ao lado por conta da “pãeternidade” e viajar em família é de grande ajuda para que isso não aconteça.

*Foto destaque: Anton Gvozdikov – shutterstock.com

(Agradecimento especial aos meus companheiros de viagem Mariah Gallas e Cayo Sousa, sem os quais esse artigo não teria sido possível.)