“A mágica acontece quando saímos da nossa zona de conforto”. Como traduzir essa máxima para a realidade do viajante? Se, por um lado, ninguém (em sã consciência) opta pelo desconfortável, por outro viajamos em busca de algo que não sabemos ainda que existe. Em qualquer viagem, essa mágica só acontece quando a gente se joga ao acaso, lançando um olhar sobre o mapa e o impulso se encarrega de guiar.
E foi assim, que encaramos a estrada de carro com saída em Amsterdã (Holanda) com destino ao Porto (Portugal) via Bélgica, França e Espanha. Dois adultos, uma adolescente e uma criança. Dividindo 2100 km, em três dias e duas noites.
Ida
1a. parada (noite): Paris
2a. parada (noite): Bilbao
A parada em Bilbao foi bastante influenciada pela vontade unânime em conhecer o Museu Guggenheim. Depois de reservar o hotel, compartilhamos a rota e logo descobrimos que as datas de um casal amigo na cidade coincidiriam com as nossas. Maravilha!

A amiga bilbaoense, nos presenteou com VIPs para o museu <3 e como o tempo era curto, optamos por visitar a exposição temporária da Yoko Ono e foi emocionante ver as cápsulas de ar e a vídeo instalação Freedom, onde ela tira o sutiã lentamente. Nos deliciamos com as guloseimas da cafeteria, nos jogamos como se não houvesse amanhã na loja do museu e seguimos, certos de que não é possível assimilar em um único dia, o espetáculo em forma de titânio e aço, que combina entre si a delicadeza e a imponência da sua construção.
Essa foi sem dúvida, uma maneira incrível de aproveitar 24 horas no País Basco e para quem resolver visitar a cidade e tiver mais umas horinhas, vale muito sentar em um dos barzinhos nos arredores do museu e experimentar (todas) as autênticas tapas espanholas.
Volta
1a. parada (noite) St. Jean de Luz (parte francesa do País Basco)
2a parada (noite) Chartres (França)
Eu tenho uma certa afinidade com mapas, então procurei os vilarejos mais próximos do mar que não nos desviassem muito da rota: uma escolha semi-aleatória e rolou um cadinho de preconceito relativo ao nome “Saint Jean de Luz” (Francês? Espanhol?)… Chegamos a St Jean de Luz às 19:00 horas, quando ainda era dia. A arquitetura meio francesa, meio alemã do século 19, transformou o balneário de férias em uma cidade com uma energia misteriosa. Olhava em volta e a sensação por vezes era como a de contemplar um ramalhete de sempre-viva. Um clima de Les Revenants e Top of the Lake, com detalhe curioso: casas com nomes próprios.

Andamos em volta e nos fundos de um restaurante comum de estrada encontramos o nosso pequeno milagre urbano: a Txopinondo em Bayonne, uma sidreria, produtora do próprio vinho de maçã e também restaurante e loja gourmet. Um lugar incrível, escondidinho, quase sem querer ser encontrado.

Lá aprendemos que existe uma ciência sobre como beber a sidra de maneira correta, e fomos educados pelo garçom e anfitrião, que nos acolheu de maneira excepcional mesmo quando a cozinha já estava quase encerrada. Comunicação em castelhano :) já que o idioma oficial do Pais Basco é… Basco.

Enquanto degustávamos (all you can drink) os 4 tipos de vinho de maçã, que se diferenciam e se expressam de acordo com o tipo da maçã utilizada, foram servidos um bife de atum, temperado de maneira divina, um bife de peito de pato, apresentado de maneira muito similar à de um entrecôte, e as batatas assadas. Para beber eram os tais shots oferecidos diretamente dos barris a cada 15 minutos e suco de maçã, que segundo a Mariah, nossa filha, especialista em sucos de maçã: o suco da casa foi o melhor que ela já tomou nos seus 14 anos. Muy bien.

Seguimos para o hotel com aquela sensação de quando você acha dinheiro no chão e pela manhã do dia seguinte encaramos a estrada com a certeza de que são necessárias muito mais que 48 horas para saborear e compreender o País Basco, um território pressionado culturalmente, que consegue preservar de maneira tão feroz as suas tradições e se mantém fascinante.
*Imagem destacada – Priscilla Dieb