Já faz um ano desde que eu, meu marido e filha mudamos de Cingapura para Auckland, Nova Zelândia. Minha experiência em morar aqui está sendo muito melhor do que eu esperava, mas também muito diferente do que era morar no sudoeste asiático.

Um dos fatores que tenho certeza que me ajudou na adaptação por aqui foi o fato de não ser um país desconhecido pra mim. A primeira vez que pisei em território neozelandês foi em janeiro de 2004. Na época vim com a intenção de estudar inglês e conhecer o país. Cheguei aqui e mudei os planos. Passei quase três meses viajando entre as duas ilhas e melhorando meu inglês na prática.
Os anos passaram e só retornei à Nova Zelândia no início de 2011, onde fiquei por cerca de cinco meses na cidade de Auckland. Neste ano a experiência foi outra, afinal outros motivos me trouxeram pra cá. Fiz um curso de inglês intensivo para tirar minha certificação, viajei um pouco pela ilha norte e redescobri a cidade.
Auckland não é a capital do país, mas é a maior cidade dele, tanto em extensão quanto em população. É onde TUDO acontece, mas não espere pela mesma agitação de São Paulo, Londres, Paris ou até mesmo Cingapura. Pois Auckland é muito mais tranquila. Mas também é muito mais verde, com praias ao seu redor e parques de todos os tamanhos.

O melhor da cidade acontece na alta temporada do verão (entenda-se de dezembro à março), onde também tem mais turistas pelas ruas. Toda energia da cidade favorece atrações ao ar livre. Auckland é uma cidade muito mais diurna do que noturna, quando se trata de atividades. No auge do verão sempre rolam festivais de música, feiras gastronômicas, piqueniques para adultos e crianças, shows, eventos esportivos e outras programações bem especificas em parques e praias.
Já o outono chega cedo e o inverno é bem chuvoso. Em Auckland não chega a nevar. Faz frio, mas assemelha-se ao frio do sul do Brasil e não ao rigoroso inverno do leste europeu. É úmido, molhado e anoitece mais cedo.
A vida noturna da cidade começa e termina cedo. Na minha humilde opinião, acho que isso acontece por vários motivos e um deles é que a cidade não é tão bem servida em transporte público para todos os bairros. Não há metrô e os ônibus só funcionam até 23 horas, com exceção dos finais de semana que há uma linha noturna que abrange alguns bairros até as 3h da manhã. Como taxi por aqui não é muito barato, a melhor opção (se você estiver no centro) é dividir com os amigos, dormir na casa de alguém que more mais perto ou voltar mais cedo pra casa no último ônibus mesmo. Porque dirigir depois de alguns drinks está fora de cogitação. Blitz policial é bem comum e o bafômetro é praticamente obrigatório. Eu mesma já fui parada duas vezes, sendo que uma delas as 20h de uma sexta-feira e outra as 10h da manhã (??!?!) próximo da minha casa. Não tem como você negar o bafômetro, enquanto você fala com o policial ele já ligou o aparelho e já viu se você ultrapassou o limite permitido. Detalhe: alguns aparelhos também identificam se você consumiu “algo mais” do que apenas álcool.
Falando em polícia, a questão da segurança por aqui é excelente. Não vou dizer que não existem furtos, pequenos roubos e coisas do tipo. Mas a incidência é baixíssima. É muito incomum assalto a mão armada em lugares públicos ou mesmo em casas residenciais. Também nunca ouvi falar em caso de assalto no transito, ouso dizer que por aqui isso soa “irrealista”. Esta tranquilidade de ir e vir é um dos pontos fortes em morar no exterior. Pois sei que não é só privilégio de morar em Auckland, mas sim de estar em uma cidade de primeiro mundo com baixa taxa de desigualdade social.

Saúde e educação pública existem SIM e o melhor é que FUNCIONAM. Meu marido e minha filha são neozelandeses, então sei bem dos benefícios em estar por aqui. Há subsídio do governo para escola e saúde. Aliás, crianças até os 5 anos de idade não pagam absolutamente nada para consultas ao médico e qualquer outro tratamento ou doença que precisem de cuidados especiais. O que acontece por aqui é que toda família escolhe um médico clínico-geral no seu próprio bairro e qualquer coisa que você tiver você irá consultar com ele. Se necessário ele encaminha você para um especialista e o sistema de saúde segue acompanhando. Obviamente você pode consultar um especialista diretamente, se você desejar. Nesta situação, você acabará pagando uma consulta particular.
A questão do trânsito é outro fator que faz muita diferença. Claro, estamos falando de uma cidade com 1,377 milhões de habitantes e numa extensão de terra de 1.086 km². Ou seja, o trânsito ” se espalha”. Quer dizer, mais ou menos. Existem horários de pico, mas não chega a ser um problema como o trânsito nas principais capitais do Brasil. Os kiwis são bem educados e respeitam toda a sinalização ao dirigir. A velocidade média permitida dentro da cidade é 50 km/h e na estrada varia entre 80km/h e 100 km/h. É difícil quando você recém muda pra cá e está acostumado a enfrentar toda a loucura das ruas em São Paulo. Mas é fácil se acostumar com a calmaria das ruas. Buzina? Você quase não escuta. Gentileza? Sim, trabalhamos. Todo mundo para na faixa de pedestre e a maioria dá a vez para você entrar na frente dele. Aliás, todo mundo respeita a pista em que está e raros são os casos de alguém “cortar” a sua frente achando que está em vantagem.

De uma maneira geral Kiwis são muito educados e simpáticos. Você é bem atendido nos lugares e sempre se mostram felizes em ajudar. Mas não se engane, simpatia e educação não quer dizer amizade fácil. A cordialidade está sempre em primeiro lugar, mas aquela receptividade e abertura toda, como nós latinos temos, está longe de fazer parte do jeito de ser Kiwi. Eles são mais fechados e demoram para se abrir. Mas, quando você finalmente consegue conquistar a amizade e confiança deles, tudo muda e podes ter certeza que terás um amigo para toda a vida. Mesmo que se falem com pouca frequência, pois a amizade kiwi é bem diferente do que nós brasileiros estamos acostumados. Por essas e outras que brasileiros acabam se encontrando e se juntando quando moram no exterior.

Para mim, hoje, Auckland está sendo uma ótima experiência. Não existe “aqui é melhor do que lá”, ou isso ou aquilo. Cada lugar guarda suas peculiaridades, seus defeitos e suas vantagens. Uma coisa é certa: não há lugar perfeito no mundo. Toda vez que você muda de cidade ou de país, você precisa se adaptar a nova realidade em que esta. É como se você mudasse também o seu estilo de vida.
Este primeiro ano não foi nada fácil, ainda sinto falta de amigos que deixei pra trás. Mas, como diz um grande amigo meu: “para o alto e avante”.