Todo mundo já passou por isso ou viu alguém passar alguma vez: você chega no balcão do check-in para despachar suas malas na hora de voltar para casa, mas suas compras foram um pouco exageradas e tuas malas pesam o mesmo que um pequeno bezerro e não podem embarcar. Você abre as malas no saguão mesmo, algumas roupas íntimas caem no chão, você avalia o que é mais pesado para colocar na mala de mão, joga fora alguma roupa velha que não é tão importante assim. Pesa de novo as malas e elas estão 0.3kg acima do peso e você implora para o atendente fazer uma vistinha grossa, e assim consegue passar.
Os brasileiros são vistos como clientes VIP pelo mercado de turismo mundial, porque são muito gastões. Na ânsia por preços mais acessíveis e impostos mais baixos, muitos de nós deixamos de consumir em casa para torrar tudo fora do país. Mas quem não está gostando nada dessa história, e já faz tempo, são as companhias aéreas. Isso porque o Brasil é um dos únicos países que tem restrições mais frouxas em relação à franquia de bagagens permitida em vôos internacionais. Mas as companhias agora estão se juntando para acabar com essa mamata.
Em geral, cada passageiro de vôo internacional tem direito a uma mala de 23kg. Acima disso, ele deve pagar um excedente para cada quilo a mais que o avião terá que carregar, até o máximo de 32kg. Acima disso, a bagagem só pode ser transportada em aviões de carga, já os sindicatos de trabalhadores de aeroportos no mundo estabeleceram esse o máximo do peso que se pode carregar dentro das regras de segurança no trabalho. Mas as leis de proteção ao consumidor no Brasil são muito permissivas em prol dos passageiros, para evitar processos relativos a bagagem, atrasos e overbooking.
Só que o avião mais pesado gasta muito mais combustível. E o fato da franquia de vôos comprados no Brasil ser de 2 volumes de 32kg, sem custo adicional pelo volume extra, faz com que o faturamento das companhias caia muito. Por uma questão de concorrência, o preço das passagens não pode subir. Assim, o mercado de aviação brasileiro está se tornando cada vez menos atraente, a ponto de por em risco a saúde financeira das empresas locais.

Na Europa, onde o mercado é bem mais restritivo, já é muito comum você comprar passagens dentro da União Européia que não dão direito a nenhum volume despachado. A empresa low-fare irlandesa Ryanair sempre operou assim. Cada volume pode custar até 20 Euros. Empresas canadenses, como a Air Canada e WestJet, já estão adotando medidas similares. Agora a pressão feita pelas companhias fez a Anac prometer rever as leis no país.
Somando-se a isso, a Receita Federal anunciou uma série de medidas para controlar melhor as gastanças dos brasileiros na alfândega. A partir do primeiro semestre de 2015, um sistema de análise de dados vai definir padrões de viajantes e vai separar quem deve passar pela fiscalização antes de pisar em solo nacional. E para ajudar, a companhias vão fornecer todas as informações da sua viagem, como duração, destinos, peso da mala e assento. Ou seja, a muamba estará na berlinda a partir de agora.
Foto do destaque: Shutterstock – Netfalls – Remy Musser