A mala de mão perfeita

4 dias no aeroporto de Caracas com o ar condicionado a 2 graus, tendo na mala de mão apenas um vestido curto que não coube na grande e um sapato de salto. 2 dias na embaixada do Brasil em Zagreb com 3 sapatos e nenhuma roupa de baixo adicional ou escova de dente. 1 dia em Playa del Carmen esperando a boa vontade da Aeromexico de encontrar uma inconfundível mala rosa-choque-maravilha.

E foi assim que, sem saber, acabei tacitamente aprendendo a preparar uma mala de mão para sobreviver perfeitamente dois dias sem a bagagem despachada.

Porque agora, na Capadócia a mais de 44 horas, a Turkish Airlines ainda não encontrou minha mala. E percebi de repente que tinha tudo que precisava. Devo ter feito mentalmente as contas da probabilidade da dita-cuja chegar no destino final.

Dos 100% de probabilidade de encontrar sua linda bagagem na esteira, desconta-se 10% quando seu vôo tem conexão, por conexão. Mais 10% quando sua conexão tem menos de uma hora. Mais 10%, se os vôos entre a conexão forem operados por empresas aéreas distintas. Mais 10% se você escolheu uma companhia aérea exótica, tipo Royal Air Morocco. 10% mais se o aeroporto da conexão for desses que não tem nem finger e você tem que pegar um onibuzinho para entrar no aeroporto. E mais uns 30% se o ticket da bagagem que te entregaram foi escrito à mão.

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Ou seja, no meu caso – a chance de não ser extraviada era 10%. E por isso a importância do kit. Se você se encaixa em uma das situações acima na próxima viagem, esse guia serve para se inspirar, e aprimorar:

KIT BÁSICO ANTI-INEFICIÊNCIA DAS COMPANHIAS AÉREAS

Uma mochila: Grande o suficiente para enfiar o que você precisa. Pequena o suficiente para servir como mochila de ataque durante o dia. Bonitinha o suficiente para não passar vergonha se for paquerar no aeroporto.

Base e maquiagem: para tirar a típica “cara de avião”.

Óculos de sol: caso a maquiagem não seja suficiente.

Lencinhos higiênicos para dar uma refrescada nas conexões.

Desodorante em bastão porque a polícia internacional acha que você pode ameaçar o piloto com uma sprayzada de Rexona em aerosol na cara.

Kit básico de medicamentos, incluindo pílula para dormir (nível fraco, médio e forte: sim,  podem começar a me julgar).

Escova e creme dental: auto-explicativo.

Plugs para ouvido e máscara para o olho: anti-bebês no avião e comissários de bordo marroquinos animados que cantam canções típicas na cadeira de trás.

iPad carregado e tecladinho Bluetooth: para deixar o computador em casa.

Livro: quando passar o efeito do Rivotril com vinho.

Carregador com porta USB para o avião e adaptador para o destino final.

Bateria extra carregada para o iPhone.

2 calcinhas: importantíssimas, e retiradas da foto por motivos de que eram bege privacidade.

1 par de meias.

1 blusa de cashmere adicional para o frio e 1 cachecol.

1 camiseta adicional, para dar uma disfarçada na foto do segundo dia com a mesma roupa.

Blusa e Calça segunda pele para o frio: e fazer as vezes de pijama.

O fato é que você só precisa se preparar para dois dias sem a mala, porque depois de dois dias, pode ligar para a Mastercard e pedir para aumentarem seu limite de crédito – a chance de recuperarem é próxima a nula.

Para mim, faltam 4 quatro horas para me despedir oficialmente dos meus casacos favoritos. Façam figas.

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UPDATE: Vanessa nos avisa que recuperou a mala ontem à noite, já cancelou a consulta com o advogado e foi a um bar com uma calcinha apropriadamente de renda.

*Foto destaque: Jeremy Bishop